Paixão ou amor



amor e paixão
Cena do filme "Entre o Amor e a Paixão" (Foto: Divulgação)

Paixão ou amor?

A diferença pode determinar o futuro do seu relacionamento

Estes sentimentos são bem diferentes - e um deles pode até virar doença

15/01/2017 - por GEIZA MARTINS

Margot (Michelle Williams) é casada com Lou (Seth Rogen), um parceiro maravilhoso, engraçado, alguém que ela ama ter ao lado. Mas é em um estranho, Daniel (Luke Kirby), que ela encontra uma conexão imediata. O triângulo entre Margot, Lou e Daniel é parte do filme “Entre o Amor e a Paixão” (não assistiu? Corre lá! É maravilhoso). Mas bem que poderia ser a vida de qualquer um.
Afinal, que atire a primeira pedra quem nunca se confundiu com sentimentos. Se a bagunça é tão grande para você atualmente que parece não ter solução, calma! Para começar, tenha em mente que amor e paixão são sentimentos bem diferentes: enquanto o amor é estável e sereno, a paixão é uma invasão de sensações turbulentas e arrebatadoras.
“Geralmente uma pessoa apaixonada apresenta euforia, tremor nas mãos, sudorese, palpitação, mudanças de humor, falta de sono e apetite”, afirma a psicóloga Livia Marcella Raineri Braga.

Sinais do corpo


Platão já dizia: “amor é uma doença mental”. E o sentimento, dependendo da intensidade, pode ser mesmo considerada uma disfunção da mente e do organismo. Ou seja, uma doença obsessiva/compulsiva -- bem diferente do amor, um sentimento tranquilo que se origina num processo completamente emocional. Segundo Livia, a paixão é um estado fisiológico em que experimentamos sensações de grande prazer devido a uma intensa atividade cerebral e hormonal.
“Já o amor pode ter muitas formas e não se trata de um processo orgânico, e sim, emocional”, distingue Lívia. Biologicamente falando, não há sinais da existência do amor. Tudo o que está ligado a ele são questões metafísicas ou psicológicas. Por isso há tanta gente, desde sempre, atribuindo propriedades mágicas e imateriais a ele.

Por que a paixão é tão intensa?


A resposta é completamente química. De acordo com a Livia, o cérebro do apaixonado libera grandes quantidades de substâncias como dopamina e adrenalina, que também são produzidas, por exemplo, quando você salta de paraquedas. Ou seja: os sintomas físicos e psíquicos provocados por elas são intensos.
Alguns teóricos afirmam que o efeito de uma paixão é muito semelhante a de quem tem acesso a uma droga, como a cocaína, por exemplo. “Ficamos à flor da pele, totalmente influenciados por este processo. Somos dominados pelo sentimento de encantamento pela pessoa amada e pelo medo de perde-la”, diz.
É neste ponto que fazemos coisas que jamais seríamos capazes de fazer e perdermos um pouco até da nossa personalidade. “O julgamento crítico, o discernimento e a racionalidade são comprometidos, então não enxergamos defeitos em nosso parceiro. O indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, pois agora pensa por dois”, explica.


Paixão ou doença?


Insônia, agonia, ansiedade, falta de ar, taquicardia... A paixão causa dependência química e, não à toa, é possível sofrer até crise de abstinência da pessoa por quem se está apaixonada. E também existe quem passe para o próximo estágio e transforme o sentimento em uma patologia: o transtorno obsessivo-compulsivo. 
Livia destacou algumas situações típicas de quem ultrapassou o limite saudável da paixão:
- O indivíduo ou o casal pode se tornar paranoico e começar a negligenciar atividades rotineiras, já que só consegue pensar apenas no amado;
- Busca exercer controle sobre a vida do parceiro;
- Limita seu círculo social e familiar, apresenta pensamentos obsessivos;
- Experimenta sentimento de posse sexual e dependência emocional.
Se você suspeita estar em uma relação obsessiva, precisa buscar atendimento psicoterápico.
Quanto tempo dura uma paixão?
Não há tempo exato, mas estudos científicos mostram que a paixão dura entre 18 e 30 meses, uma média de dois anos.

Paixão pode virar amor?


Sim, e se acontecer, é a consequência mais bacana de ter se apaixonado! Mas ela também pode se tornar ódio, inveja e até amizade. “É um processo sutil e particular, pois depende de muitos fatores presentes em um relacionamento amoroso”, afirma Livia. São eles: companheirismo, cumplicidade, interesses em comum, tolerância, respeito e intimidade.

O amor sempre nasce de uma paixão?


Nem sempre. De acordo com a psicóloga, amar alguém nunca será instantâneo, o amor nasce com o tempo. “Mas acredito que uma parceria amorosa possa nascer de várias formas, não somente através do processo fisiológico da paixão. A personalidade, a maturidade emocional, os interesses e as experiências em comum também contam, além de a maneira de encarar a vida, objetivos e sonhos, educação e cultura”, explica.

O que é necessário para manter um relacionamento longo?


Uma paixão não dura mais que três anos, já o amor é o alimento que nutre casamentos, namoros ou qualquer outro tipo de relação longa. “Livre do turbilhão emocional que é a paixão, o amor pode florescer com calma, permitindo que o indivíduo deseje estar com alguém sem abrir mão de si mesmo, da sua individualidade”, diz. Ou seja, amar é conviver ao lado de alguém sem se anular, com uma parceria correspondida. “Quando existe parceria, admiração, intimidade e respeito entre um casal, os envolvidos passam a querer construir algo mais forte e sólido juntos”, avisa.


Entrevista cedida pela psicóloga:
Lívia Marcella Raineri Braga 
Psicóloga 
CRP 06/112943 





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