Adriana Moreira dos S. Severine
Psicóloga CRP 06/121052
Viciados em compras
Psicóloga fala sobre vicio em compras - foto: Divulgação |
No filme Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, uma comédia
romântica lançada em 2009, a protagonista é uma jornalista recém-formada às
voltas com sérios problemas em suas finanças pessoais. O motivo? Sua compulsão
em fazer compras. Bolsas, lenços, casacos — tudo é motivo para sacar o cartão
de crédito. Mas apesar do tom ameno da história e de sua visão conciliadora e
engraçada, o consumo compulsivo é uma realidade que pode levar as pessoas à ruína.
Para a psicóloga Adriana Severine, acostumada a tratar
consumidores compulsivos, a pessoa começa a comprar e logo perde a noção. “Ela
não consegue passar mais do que poucos dias sem comprar algo, seja uma roupa ou
produtos de supermercado, sem dar importância ao preço ou à utilidade”.
Trata-se de um arroubo, uma necessidade imensa de comprar “alguma coisa”, que é
de onde o consumista tira o seu prazer.
Por vivermos numa era propensa ao consumo desenfreado, haja
vista a oferta de crédito e de bens em abundância, nem sempre é uma tarefa
fácil distinguir entre o consumista normal e o patológico. Muitas pessoas,
inclusive, veem nas compras um momento de relaxamento, a ponto de existir em
inglês uma expressão para isso, retail therapy (“terapia de compras”, em
tradução livre), cuja definição, segundo o site Urban Dictionary, é “um
pretexto para as pessoas, sobretudo mulheres, fazerem compras quando se sentem
mal”.
“É fácil para o consumista patológico se esconder atrás do
argumento de que precisava daquele produto. Muitos não conseguem passar três
dias sem comprar alguma coisa. A dificuldade de identificar e oferecer ajuda a
um comprador compulsivo é que o distúrbio muitas vezes só aparece para as
pessoas que convivem com o compulsivo quando este já está cheio de dívidas”,
assegura a dra. Adriana, que vê na falta de condições do consumista de arcar
com suas contas um motivo a mais para levá-lo ao desespero.
Tornam-se comuns, nesses casos, argumentos para abrandar a
culpa, tais como “eu mereço, a minha vida está tão difícil que mereço um
presente hoje”, entre outras justificativas. O problema, afirma Adriana, é que
esse “hoje” se torna diário, e um dos sinais de que as coisas não estão indo
bem é que a pessoa compra muitos produtos repetidos, quase sempre sem
necessidade, como comida, por exemplo, que acaba indo parar no lixo.
Há muitos fatores que podem determinar a manifestação do
consumo compulsivo. O que é ponto pacífico para psicólogos e especialistas,
porém, é que essas pessoas compram para ter uma sensação reconfortante e
prazerosa. Trata-se de um problema complexo, de origem psicológica, na medida
em que há diversas variáveis a serem consideradas antes de se proceder a uma
correta abordagem do indivíduo, uma vez detectado o problema.
“A maior dificuldade de tratar os compulsivos é que devemos
levar em conta todos os aspectos da vida do paciente, pois o compulsivo pode
mudar o alvo de seu prazer. Se ele é um comprador compulsivo e sua família
resolve ajudá-lo, tirando o seu cartão de crédito e controlando as suas
compras, inconscientemente ele busca outra fonte de prazer em outro tipo de
compulsão, que pode ser de ordem alimentar, sexual, jogos, etc.”, explica a psicóloga.
A manifestação do consumo compulsivo varia de pessoa para
pessoa, obedecendo à história e à origem de cada sujeito: uns compram mais
comida, outros roupas, eletrônicos, e assim por diante. Essa forma de perpetuar
a sensação de prazer por meio da aquisição de coisas, contudo, vai-se tornando,
paradoxalmente, cada vez mais efêmera e insustentável, e um ato cuja finalidade
original seria tornar a pessoa mais feliz e realizada, acaba transformando-se
numa fonte de angústia e decepção.
“O tratamento indicado nesses casos é a Terapia
Cognitivo Comportamental (TCC), que auxilia o paciente a entender a raiz da sua
necessidade de comprar em excesso para se sentir feliz”, explica a dra.
Adriana, que faz questão de ressaltar a diferença entre o consumista “normal” e
o compulsivo:
“É diferente ser compulsivo e ser comprador: no segundo caso
a pessoa busca comprar coisas de que realmente precise ou que lhe agradem;
busca melhores preços, consegue esperar para comprar. O compulsivo compra muito
sempre, exagera no supermercado, compra blusas do mesmo modelo em cores
diferentes, compra coisas que ‘algum dia’ poderá usar”, explica.
É a constância nas compras, segundo a psicóloga, uma das
principais características do consumista compulsivo. “Não é a compra de hoje que
me deixará feliz amanhã — e aí no dia seguinte precisa fazer outras compras”.
Embora sejamos todos um pouco consumistas — outros
mais, outros menos, é preciso que se diga —, um consumidor comum dificilmente
se passará por compulsivo na medida em que não é movido pela dinâmica do
“prazer vs. culpa” na hora de comprar, mas sim por necessidades plausíveis.
Segundo Adriana Severine, para consumistas patológicos “o prazer é momentâneo,
e é seguido de uma culpa enorme, que só diminui quando se compra mais. Torna-se
um ciclo vicioso, do qual é cada vez mais difícil se desvencilhar.”
Publicado por: Repórter Minador do Negrão
http://www.reporterminadordonegrao.com.br/viciados-em-compras-doenca-ou-estilo-de-vida/
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