Há muito tempo quero escrever sobre isso, pois é a realidade de muitos dos meus pacientes. Você depende do que? As pessoas costumam discutir no seu dia a dia a respeito das causas, dos sintomas e malefícios da dependência química. Alguns a entendem como doença - o que realmente é - outros estabelecem certo preconceito, chegando a apontar “preguiça” ou “vagabundagem” do
dependente.
Não tenho a intenção de me aprofundar neste tipo de problema, apenas faço o link para outra discussão. Pretendo com isso, não minimizar os riscos do alcoolismo ou dependência em drogas, apenas fazer um exercício para tentarmos entender o que se passa com estas pessoas e, quem sabe, ajudarmos de forma efetiva e não atuarmos como agentes de novos preconceitos e discriminação.
O processo da dependência, geralmente, tem início quando associamos uma situação ou substancia ao prazer, ou seja, no caso do alcoólatra, ele começa a fazer uso da bebida para relaxar e, como obtém o resultado esperado, começa a abusar. Com o tempo não percebe que a bebida começa a ser o “prazer” e não mais sua consequência. Tanto é que, em longo prazo, a pessoa fica sem perceber que a sensação boa já não existe mais. Na verdade, deu lugar a mais situações de stress. Neste caso, o quadro tem maior chance de acontecer quando o indivíduo tem componentes genéticos que fortalecem o estabelecimento da doença.
Qualquer dependência é assim: do trabalho, da comida, da religião, do sexo, do jogo, da mentira, da “bondade ou maldade”, da tecnologia, da academia e de qualquer outra forma que possa gerar uma compulsão por determinado comportamento. O exagero ou extremo de qualquer atividade é caracterizado como dependência e, como qualquer outra, gera prejuízos tão ou maiores que a dependência mais comentada. Isso porque em muitos casos é visto como saudável ou se justifica com “ela ou ele é são assim mesmo”. Desta forma, tanto o dependente como os que estão ao redor sofrem durante uma vida toda e não procuram ajuda ou uma forma de minimizar as consequências.
Onde quero chegar? Perceba qual o seu pensamento que traz compulsão, por o que seja, e entenda que a mesma força age em outras pessoas em situações diferentes. A dificuldade que você tem em controlar um comportamento, atividade ou situação o outro também tem. Cada um com sua fraqueza.
Buscamos minimizar nossas fraquezas maximizando as do outro. Este é um esquema bastante funcional para “nos sentirmos bem”, diminuir a ansiedade e buscar o equilíbrio emocional. Mas é bacana pensarmos que é funcional apenas para nosso equilíbrio e não para a sociedade. Não nos tornamos pessoas melhores “apontando a fraqueza dos outros”, isso, inclusive, é uma compulsão com sérios prejuízos . Somos melhores quando conseguimos entender que somos “iguais” em nossas “diferenças” e, isso, é a primeira lição para juntos, cada um da sua forma, diminuir qualquer que seja o mal.
Margarida Luzia dos Santos Antunes Chagas - Psicóloga CRP 06/83646