O valor da palavra no relacionamento

psicologo para casal na av paulista e centro de são paulo
Entrevista cedida pelo psicólogo Paulo Sergio Estevam Ferreira CRP 06/93350 para o Bolsa de Mulher


> - O que vale mais dentro de um relacionamento: o gesto ou a palavra?
O que conta muito dentro de um relacionamento é que ele seja reforçador, recompensador para ambas as partes, e para que isso ocorra, a comunicação é fundamental – seja ela verbal ou não verbal. Pesquisas apontam que os casais encontram mais dificuldades quanto mais déficits apresentam no quesito comunicação e resolução de problemas. Podemos então dizer que os dois pontos citados na pesquisa estão diretamente ligados – somente podemos resolver problemas quando comunicamos o que pensamos e o que sentimos dentro da relação. Tanto gestos (comportamentos não verbais) quanto palavras (comportamentos verbais) são imprescindíveis para o bom caminhar da relação, e muitas vezes acontecem juntos, e não separadamente – são “linguagens” diferentes, porém com a mesma função, e qualquer divergência entre elas pode ser facilmente perceptível por uma das partes, causando desconforto, insegurança, medo, entre outras coisas.

> - Depois de certo tempo, as pessoas param de dizer “eu te amo” entre outras frases por acreditarem que o outro já sabe. Esse tipo de atitude pode comprometer uma relação, desgastar?
Segundo B.F. Skinner e o behaviorismo radical (filosofia que embasa a ciência do comportamento), quando dizemos “eu te amo” dizemos mais do que “você me reforça” – dizemos “você reforça meus comportamentos” - porque é o comportamento , não a pessoa que se comporta, que é reforçado, no sentido de ser fortalecido. Ainda segundo ele, analistas do comportamento diriam, sim, que existe, sem dúvida, um elemento reforçador no amor, e o efeito interno disso é o prazer, o bem-estar que se tem ao estar próximo da pessoa amada. São então, as consequências desses comportamentos que mantém a relação fluindo bem, e que fazem com que os casais permaneçam juntos. Porém, na prática, percebe-se que alguns casais deixam de emitir esses comportamentos, talvez pensando que o outro já não precise tanto saber sobre seus sentimentos – aqui então considerando o dizer “eu te amo” como um comportamento verbal reforçador na relação – e aos poucos a relação vai perdendo aquela estimulação inicial, caindo em rotina e consequentemente em término daquele prazer que antes era tão presente. Quando alguns comportamentos não são reforçados acabam entrando no que é chamado “processo de extinção” – aos poucos ele vai deixando de ser emitido – talvez esse seja então o início do desgaste da relação.

> - Até que ponto as indiretas ou frases subentendidas podem fazer parte da vida de um casal?
As indiretas, frases subentendidas, pedidos implícitos, sinalizações, ou outros nomes que possamos dar, passam a fazer parte da vida de um casal quando já não há mais espaço, disponibilidade de uma das partes (ou até das duas), para manter um diálogo franco e aberto. Em alguns momentos um dos membros do casal pode passar a comportar-se dessa maneira menos diretiva e objetiva, deixando ser atendido em suas necessidades, passando então a valer-se mais e mais desse artifício. Isso não significa que ele/ela será atendido em todas suas expectativas o tempo todo, podendo então gerar insatisfações e frustrações posteriores. Esses comportamentos podem passar a integrar a relação também, quando não há possibilidade de comportar-se de forma assertiva, talvez por timidez, retraimento, inabilidade, ou até mesmo falta de treino. Comportar-se assertivamente dentro da relação seria o mesmo que poder, e conseguir falar sobre si mesmo, comunicar suas necessidades, sem prejuízos para si mesmo e/ou para o outro – seria também avaliar corretamente uma situação, apresentar motivação para atuar apropriadamente e agir de acordo com seus direitos. Nem todas as pessoas dispõem desses recursos aparentemente tão claros e explícitos, lançando mão então de estratégias como frases subentendidas, por exemplo, deixando de se beneficiar e de agir na direção do bem da relação.

> - Quem investe mais em frases e gestos subentendidos: o homem ou a mulher?
Quem se magoa mais com elas? Parece que a mulher fica mais magoada quando o homem não entende suas indiretas...
Talvez não seja possível aqui fazermos uma distinção entre os gêneros – masculino e feminino – mas sim pensarmos em termos de possibilidades de expressão positiva e assertiva em relação ao que se pensa e ao que se sente. O resultado de uma não expressão de sentimentos, desejos, necessidades de forma assertiva, é sem dúvidas, frustração e mágoa. Cabe aqui ressaltar que nem sempre o outro é capaz de entender essas “indiretas”, e que a culpa do não atendimento a uma exigência não é dele/dela, e sim daquele que não foi capaz de agir de maneira a atender suas demandas. Talvez então, quem fique mais magoado não seja sempre o homem ou a mulher, e sim, aquele que não teve condições de emitir comportamentos adequados com as situações.

> - Em um artigo, Leo Jaime diz que antes de sexo perder o sentido numa relação a dois, norteada de frases subentendidas, os beijos já  deixaram de existir. Se formos fazer uma lista dos gestos e atos que  se desgastam numa relação o beijo seria o primeiro deles?
Como reverter essa situação?
Os gregos tinham três palavras para definir amor – Eros, Philia e Agape. Eros aparece como sendo empregada para significar o amor sexual – parte do fazer amor derivada também da seleção natural – e na nossa espécie não somente isso. Existe aí também o reforçamento sexual, que permite muito maior frequência e variedades de formas de fazer amor. A direção desse reforçamento, a maneira pela qual fazemos amor na espécie humana, é afetada por sinais de que o amante sente prazer. Pode-se agir no sentido de agradar um amante porque nosso próprio prazer também  é aumentado – a pergunta que aqui cabe é o que se pode fazer quando isso não ocorre mais. Certamente uma relação a dois não deixa de existir somente quando beijos e relações sexuais param de acontecer – ao menos não num primeiro momento. O desgaste, ou a perda de reforçadores mútuos, vai acontecendo lentamente, quando não existe mais uma disposição para a ação, quando não há mais disponibilidade para inovar, admirar e sentir-se admirado – quando passa a existir no lugar disso, desilusão, insegurança, desconfiança – e algumas vezes, as ironias, as frases subentendidas com sentidos negativos e pejorativos passam a fazer parte da relação quase o tempo todo. Fica então um misto de vários fatores que faz com que a relação não mais seja digna de investimento de tempo e energia. Talvez um dos primeiros sinais que se possa pensar como indicador de  problemas na relação seja a falta de motivação para o diálogo, para o estar bem juntos, o fazer coisas juntos. Não havendo essa disposição, não haverá interesse para todo o resto que envolve a relação, considerando então, não necessariamente em primeiro lugar o beijo, o sexo, o afeto entre outras possibilidades de uma longa lista.

> - Você gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Dando continuidade, e não simplesmente encerrando assunto tão complexo como as relações humanas e o comportamento humano, cito novamente Skinner e algo que ele nos diz em relação ao amor e aos amantes:
Existe, sem dúvida, um elemento reforçador no amor.Tudo que os amantes fazem no sentido de ficarem juntos ou de evitarem a separação é reforçado por essas consequências, e é por isso que eles passam juntos o maior tempo  possível (...) “Eu te amo” significa “você me dá prazer ou me faz sentir bem”.
Em resumo, as relações humanas se estabelecem por meio de trocas, de compartilhar, de dar e receber - o aprendizado acontece aí. Estar em uma relação significa aprender, se desenvolver, tornar-se uma pessoa melhor e mais consciente de si mesma e de seus comportamentos. Toda essa dinâmica fica enriquecida quando dizemos, quando expressamos o que pensamos e o que sentimos, pois é somente assim que se dá ao outro a possibilidade de também crescer e mudar.



Entrevista publicada no Bolsa de Mulher
 “Frases subentendidas são perigosas para o relacionamento”

No relacionamento as famosas indiretas pode somente podemos solucionar pendências quando comunicamos o que pensamos e o que sentimos dentro da relação 
A intimidade tem dois lados: ao mesmo tempo em que os parceiros se sentem livres para dizer tudo o que pensam, há momentos em que algumas coisas não são ditas, por um achar que o outro já sabe, já absorveu a mensagem. Essas questões subentendidas ou mal ditas podem desgastar uma vida a dois, deixando-a mais perto do fim.

Para que um relacionamento seja recompensador, a comunicação é fundamental – seja ela verbal ou não verbal. “Pesquisas apontam que os casais encontram mais dificuldades quanto mais déficits apresentam no quesito comunicação e resolução de problemas”, afirma o psicólogo Paulo Sergio Estevão.

Segundo o especialista, somente podemos solucionar pendências quando comunicamos o que pensamos e o que sentimos dentro da relação. “Cabe aqui ressaltar que nem sempre o outro é capaz de entender ‘indiretas’ e que a culpa do não atendimento a uma exigência é daquele que não foi capaz de agir de maneira assertiva. Talvez então, quem fique mais magoado não seja sempre o homem ou a mulher, e sim, aquele que não teve condições de emitir comportamentos adequados com as situações”.

Segundo a psicóloga Andreia Calçada, as frases subentendidas, quando usadas de maneira consciente, até aquecem, apimentam a relação. Já Dr. Paulo Sergio pensa diferente. Ele acredita que as indiretas e sinalizações passam a fazer parte da vida de um casal somente quando já não há mais espaço para uma das partes (ou até para ambas), manterem um diálogo franco e aberto. “Sem essa disposição, não haverá interesse para todo o resto que envolve a relação”, afirma.

Com o fim da força do diálogo, alguns gestos típicos de casais também são esquecidos. “Alem do beijo, podemos citar o carinho simples e o andar de mãos dadas”, comenta Dra. Andreia. Dr. Estevão pondera: “É importante ressaltar que uma relação a dois não deixa de existir somente quando beijos e relações sexuais param de acontecer – ao menos não num primeiro momento. O desgaste acontece de forma lenta, quando não existe mais uma disposição para a ação, para inovar, admirar e sentir-se admirado, quando passa a existir no lugar disso desilusão, insegurança e desconfiança.”
Dr. Paulo lembra também que, nessa hora, as ironias e frases subentendidas com sentidos negativos e pejorativos passam a fazer parte da relação quase o tempo todo. E as palavras “eu te amo”, que significam “você reforça meus comportamentos” perdem o sentido. “Essa expressão é um comportamento verbal reforçador na relação e a partir do momento em que não há este reforço, os casais acabam entrando no que é chamado ‘processo de extinção’”.
O psicólogo finaliza explicando que as relações humanas se estabelecem por meio de trocas e de compartilhamento. “O aprendizado acontece aí. Estar em uma relação significa aprender, se desenvolver, tornar-se uma pessoa melhor e mais consciente de si mesma e de seus comportamentos. Toda essa dinâmica fica enriquecida quando expressamos o que pensamos e sentimos, pois é somente assim que se dá ao outro a possibilidade de também crescer e mudar”.