Passar a vida idealizando alguém
Já ouvi várias pessoas falando “Não conheça seu ídolo!”.
Estas pessoas se referem a decepção possível ao ter contato com os prováveis
defeitos de quem imaginou-se perfeito. Para estas pessoas o melhor seria manter
a ilusão de que a pessoa é maravilhosa em tudo e assim manter em sua mente uma
imagem bonita, mesmo que seja de uma pessoa com quem nunca terá contato.
Creio que isto vale para ídolos distantes, famosos, etc.
Normalmente quando um fã se aproxima de seu idolo não
consegue ter uma relação saudável e equilibrada, ele fica “basbacado” olhando
para o ídolo, esperando que ele faça ou fale coisas maravilhosas, sem perceber
que talvez este ídolo espere dele alguma reação normal, de interação
verdadeira. Pode ser frustrante para o ídolo.
São situações onde o ídolo é uma fonte de prazer ao qual ele
não imagina oferecer algo verdadeiro a não ser “oferendas” que ele tem mais
prazer em dar do que imagina que o ídolo teria em receber.
É um prazer unilateral. Para o ídolo talvez seja interessante
apenas contabilizar este fã como mais um, um número que lhe dá “ibope”.
Alguns idealizam pessoas de seu próprio meio, como por
exemplo um amigo, um professor, um parente. Mas percebo que pode haver um maior
prejuízo quando a idealização ocorre com o par romântico.
Vejo muitas pessoas idealizando um paquera, namorado (a),
marido. Passam uma vida considerando aquela pessoa perfeita. E como isso não
existe, corre o risco desta pessoa estar se relacionando com uma mentira, uma
pessoa que pode se aproveitar de tal admiração e fazer coisas que possam
prejudica-la, pois a a visão pode ficar turva e não perceber o que ocorre.
Quando a pessoa idealiza um paquera, pode ser tornar um
“amor impossível”, alguém inalcançável a quem nem se tenta aproximar, pois
talvez haja o medo inconsciente de identificar características que derrubaria o
mito.
Quando idealiza um namorado ou marido, pode estar
alimentando um relacionamento incompleto. Talvez alimentando um narcisista que
precisa de mais de admiradores do que de pessoas verdadeiras a sua volta. Ou
mesmo que esta pessoa não alimenta a idealização do outro, o simples fato de
aceitar e calar, e não se colocar como uma pessoa com possibilidade de falhar
pode colaborar para que sua companheira (o) viva uma vida de ilusão.
A pessoa que idealiza seu par romântico abre mão de conhecer
o outro como realmente é. Talvez tenha dificuldade em encarar possíveis falhas,
e não saber lidar com elas. Talvez a dificuldade em lidar com a dor da
realidade muito mais cinza do que sua fantasia colorida crie uma imagem tão
colorida quanto necessite ver. Talvez
haja tanta necessidade em ter alguém perfeito em sua vida que cria esta pessoa
em sua mente e o materializa no seu (sua) companheiro (a). Talvez já tenha se
decepcionado com outras pessoas. Talvez seja sinal de alguma esperança em ter alguém a quem possa
admirar.
Algumas pessoas são idealizas porque se colocam como sendo
melhores do que realmente são. Outras são idealizadas porque o idealizador de
alguma forma se deixou levar. Algumas vezes
as pessoas tem necessidade, ou desejo, de encontrar outras pessoas com
certas características, e acabam imaginando estas características em alguém
idealizado por ter se deixado levar por elogios feitos por outras pessoas, ou
por associações de ideias, como por exemplo, fica sabendo que tal pessoa é um excelente
pai e conclui que também é uma pessoa honesta ou carinhosa, o que pode não ser
verdade.
Fazendo um paralelo com o consumo de produtos: as vezes
compramos algumas coisa com a sensação de que esta coisa vai nos suprir
completamente, que com este produto seremos felizes e completos (até
percebermos que se trata apenas de um produto).
Talvez a idealização de pessoas seja o correspondente do
consumismo, quando a pessoa compra coisa atrás de coisas buscando uma
completude. Na idealização o consumo é de uma pessoa, com toda a fantasia de
que ela nos suprirá2 de toda felicidade possível.
Marisa de Abreu Alves
Psicóloga
CRP 06/29493
Psicóloga
CRP 06/29493
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