Quando os filhos perguntam para as mães qual deles é o seu preferido, elas sempre dizem que amam a todos da mesma forma.
Mas será que é assim mesmo? Na novela "Insensato Coração" a preferência de Wanda, personagem de Natália do Vale, pelo filho Leo (Gabriel Braga Nunes) é explicita. Tanto é que o irmão mais novo, Pedro (Eriberto Leão), e pai, Raul (Antônio Fagundes), sofrem com essa situação.
Na opinião da psicóloga clínica Cleonice Ester Rigamonti de Medeiros, na maioria das vezes, a preferência das mães por um determinado filho é inconsciente, uma vez que, socialmente, espera-se uma distribuição igualitária do amor e do zelo. "Vale esclarecer que o favoritismo temporário, ou seja, aquele que é compartilhado periodicamente com cada um dos irmãos é o ideal, pois isso transmite à criança noção de identidade e a segurança de que é amada".
A psicóloga esclarece que essa preferência temporária ocorre, por exemplo, quando um dos filhos está doente, presta um concurso e não é aprovado ou quando termina um namoro e está sofrendo. "O favoritismo se desfaz assim que é cessado o motivo, podendo se manifestar em outro filho, se este carecer, ou ficar neutro, até que surja outro fato que volte a instigar o instinto de proteção."
Amar de maneira igualitária não é tarefa difícil para as mães, mas é importante lembrar que é natural do ser humano proteger sempre o mais fraco. Dessa forma, quando os pais percebem que um dos filhos é mais frágil, menos inteligente ou portador de alguma doença, dispensam mais tempo com ele. "Outro critério de seleção é pelo filho mais fácil de lidar. E, geralmente, aquele que tem personalidade mais marcante acaba sendo deixado meio de lado", comenta Dra. Cleonice.
Além de fazer mal à relação entre os filhos, que podem vir a se tornar inimigos, a preferência pode gerar protecionismo, causando um grande mal ao superprotegido. A psicóloga alerta que, no começo, ele pode tirar proveito disso, mas com o tempo, ele passa a ter mais dificuldade em criar uma identidade, obedecer às regras e se tornar medroso, inseguro e dependente emocionalmente.
"Às vezes, o filho pode se sentir responsável por trazer mérito aos pais, por fazê-los felizes, e quando ele não consegue cumprir exatamente o que se espera dele, acaba se sentindo mal, infeliz e impotente". Já o filho menos favorecido pode seguir dois caminhos: um é conseguir criar mecanismos de defesa, como independência e perseverança, a ponto de lutar por algo até conseguir. "O outro é se tornar um indivíduo amargurado, com profundo sentimento de rejeição e propenso à depressão", afirma a especialista.
Dra. Cleonice faz questão de lembrar que amor é diferente de afinidade. Uma mãe pode ser mais unida à filha que conversa mais com ela e lhe dá mais liberdade para fazer parte de sua vida do que àquela que é mais tímida e acaba não sendo tão amiga da mãe. Mas isso não significa que a mãe não ame as duas da mesma forma. Porém, quem vê de fora, entende que ela prefere uma à outra.
"Quando isso ocorre, os pais precisam prezar pelo equilíbrio e bom senso, para que a evolução, em todas as fases do crescimento, não fique comprometida. Caso não consigam sozinhos, devem procurar ajuda de um profissional, de forma a evitar o sofrimento daqueles que se sentem menos favoritos.
Por Juliana Falcão (MBPress)
*O material deste site é informativo, não substitui a terapia ou psicoterapia oferecida por um psicólogo .