Dra Adriana Severine cede entrevista ao UOL e fala sobre irmãos que brigam e discutem:
Patrícia Guimarães
Colaboração para o UOL, em São Paulo
06/08/2017 04h00
"Eles brigam o tempo inteiro. Não podem ficar um ao
lado do outro". É assim que a educadora física Priscila Ferrer define a
convivência entre os filhos, Arthur, 5, e Sofia, 8. A mãe é chamada porque os
dois querem deitar no mesmo sofá; porque um pegou o controle da televisão sem a
permissão do outro; porque querem se sentar perto do mesmo amiguinho; pelo
lugar do carro; ou seja, por tudo. Algumas vezes a confusão deixa de ser apenas
uma discussão e os dois se agridem, de fato.
Essa situação que se repete todos os dias na casa de
Priscila é comum em muitas famílias. A questão é, por que as crianças continuam
brigando por mais que os pais façam de tudo para evitar que isso aconteça?
Por que irmãos brigam?
Para a psicóloga especializada em atendimento de crianças e
adultos Adriana Severine, as brigas ocorrem por disputa de espaço. "Eles
querem ter a prioridade no carinho dos pais e aí a prioridade vale para
tudo. Algo como se fosse 'eu sou mais especial porque eu vou tomar banho
primeiro'. Porque quem pode mais, na cabecinha deles, é aquele que é mais
amado. Então eles estão disputando o lugar deles frente às pessoas que eles
amam."
Além dessas, existem outras explicações para os conflitos.
"Essa disputa é puramente emocional. Ele ocorre, independentemente da faixa
etária, quando a pessoa se sente ameaçada na suas capacidades, nas suas
habilidades ou quando perde um pouco a noção de quem é em relação ao outro.
Brigar e discutir é quase um comportamento compensatório", explica a
psicóloga clínica e psicopedagoga Marisa Irene Siqueira Castanho.
O conflito entre irmãos é normal e pode ir até a fase da
adolescência. É nessa fase que eles costumam ficar mais rebeldes e contestar
mais as posições da família para testar os limites de cada um e de buscar
também autorreconhecimento. Até lá, é necessário ficar atento aos motivos pelos
quais as brigas ocorrem e mediar as confusões.
Como mediar ou reduzir os conflitos?
A primeira coisa a ser feita é entender os motivos da briga.
Para isso, é importante observar os filhos. "Os pais têm de ter muito
clara noção de justiça. E, talvez na hora da confusão, tende-se a querer
superar pela ameaça, pelo castigo. Isso não vai resolver. Na mediação da
disputa entre as crianças não deve ter essa de que o mais velho tem de entender
o mais novo. A justiça é aquela em que se é capaz de compreender,
independentemente da idade, quem é que está certo e quem está errado. Sempre
tem um 'start' na situação. E quem fez isso não vai admitir nunca. E aí os pais
têm que ser neutros", explica Castanho.
Quando o conflito já está instalado a melhor opção é
observar até o momento em que se percebe que as crianças não terão capacidade
de entrar em acordo. Quando a discussão evoluir para agressão, os pais devem
interferir usado o senso de justiça e sempre dando explicações. "No
momento da confusão é preciso que os pais tenham a clareza de, por exemplo,
dizer 'não se pega a força. Deve-se pedir emprestado'. Claro que o outro vai
dizer que não. Mas aí o adulto interfere também", ensina Castanho.
Severine, no entanto, ressalta que essa intervenção deve ser
feita em momentos oportunos. "Se os pais interferirem sempre, as crianças
não vão ter mais a capacidade de encerrar problema algum."
Outra dica valiosa é criar, com as crianças, combinados que
previnam as confusões. Para situações em que todos queiram ir na janela do
carro, por exemplo, deve-se acordar que um irá na ida e o outro, na volta. O
mesmo vale para disputas de lugar no sofá ou sentados à mesa. Os pais devem
estar sempre atentos para que os combinados não sejam descumpridos; pois assim
estariam incentivando uma falta de reconhecimento do espaço de cada um.
"As coisas devem ser sempre determinadas de acordo com
o que é lugar de cada um; a função e o espaço de cada um no intuito de diminuir
as brigas. Mas nunca impedir. Porque faz parte do crescimento. Se você acaba
não deixando a criança resolver as coisas dela por conta própria, você vai
gerar um adulto incapaz de tomar iniciativas ou solucionar problemas",
finaliza Severine.
Adriana Moreira dos S. Severine
Psicóloga CRP 06/121052
Bela Cintra, 968
(próx. Av Paulista)
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