A gaveta onde colocamos o que não queremos ver



A gaveta onde colocamos tudo o que não queremos saber


Às vezes podemos desfrutar de uma pseudo tranquilidade colocando em gavetinhas bem fechadas alguns assuntos que mobilizariam. Pode haver situações que seriam conflitantes se reconhecêssemos sua existência, mas como não olhamos diretamente para ela passamos pela fase (ou vida) sem o incomodo de lidar com elas.

Por exemplo, um filho gay pode ser “ignorado” por anos caso os pais tenham muita dificuldade em lidar com o assunto. Estes pais podem “não perceber” alguns indícios como por exemplo um amigo frequente nas festas.

Falta de curiosidade, não ter interesse em certos detalhes, considerar que não deve ser nada importante pode ser na verdade uma forma de “empurrar com a barriga” algo que está à sua frente.

Talvez algumas das coisas que dizemos não ter interesse, mas coisas que fazem parte de nosso universo, possam ser assuntos que percebemos que não teríamos bagagem para lidar. Pois sim, para lidar com algum assunto mais delicado pode ser necessário alguma bagagem. Por exemplo, uma pessoa que sente falta de algum material na sua empresa, pode até desconfiar que este material possa estar saído de forma ilícita. Pode haver algumas reações que demonstrem a dificuldade em lidar com o assunto. Por exemplo uma explosão de raiva e inserção de novas rotinas de controle de estoque tão rígidas que pode até inviabilizar o andamento do trabalho, ou a simples demissão de toda uma equipe. Tudo isso simplesmente para não olhar para o rosto daquele que foi desonesto e lidar com as fragilidades, necessidades e deficiências desta pessoa.

E por falar em deficiência, podemos incluir a dificuldade de alguns em simplesmente olhar para um deficiente que esteja em sua frente. Talvez a dificuldade, ou medo, de perceber o quanto existe de possibilidade dele mesmo passar pelo mesmo problema.
E assim pode ocorrer com qualquer outra situação, desde a dificuldade em lidar com a amiga que levou um fora do namorado, ou amigo, e acaba por lidar com brincadeiras demais, distração, frases do tipo “liga não, depois você conhece outro (a)”. E talvez tudo isso seja a dificuldade em acolher e validar o sentimento desta amiga.
Talvez esta pessoa não tenha tido o treino com as pessoas que lidaram com suas dificuldades e o máximo que conseguiu receber foi um “bola pra frente”, e assim este é o máximo de recurso que tem para oferecer. E por isso dizemos que cada um dá o que tem.

Porque “fugir” destes assuntos?
Pode ser doloroso encarar um tema ao qual percebe que teria que tomar uma posição ou uma atitude. Por exemplo, uma pessoa que “sente” que está sendo traído mas não se envolve neste assunto pode ter muita dificuldade em lidar com a possibilidade de separação.  As vezes podemos perceber isso em certas situações onde a pessoa pergunta para alguém o que acha que está acontecendo mas tem todos os detalhes que lhe dariam a certeza da situação, mas ainda ela considera que pode haver dúvida. O benefício da dúvida é ótimo mas cegar-se ao que está claro a sua frente pode ser uma forma de negar auxilio a quem precisa compartilhar algo contigo.
Às vezes o assunto é algo que também a incomoda, e por isso tem dificuldade de acolher o outro, por exemplo uma pessoa depressiva pode ter muita dificuldade em lidar com o amigo depressivo.

Por isso, prestar atenção até ao que está ignorando pode ser muito construtivo. 





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