Psicólogo Paulo Sergio Estevam Ferreira CRP 06/93350 em entrevista para jornalista Bianca site Vila Mulher Portal Terra
Nerd, CDF são nomes que os jovens podem odiar. Crianças e adolescentes deixam de estudar para não serem rotulados como “nerds” no colégio. Qual seria a melhor forma para os pais orientá-los em relação a isso.
Logo cedo, na escola, a criança aprende que ser bom aluno e tirar boas notas vai tachá-lo de “nerd”. Isso pode fazer com que ele rejeite esse bom comportamento?
Ser bom aluno e tirar boas notas, apesar de ser motivo de orgulho para os pais, nem sempre é o mesmo para a criança ou adolescente, principalmente. Algumas crianças e adolescentes adquirem desde cedo o hábito e o gosto pelos estudos, e são recompensados pelos pais e professores. Porém, com o passar dos anos e com a entrada na adolescência, esses comportamentos antes reforçados, podem passar a ser punidos, e sempre, ou quase sempre pelos colegas do colégio – essas crianças passam então a ser chamadas de “nerds”. Nesse momento a criança/adolescente imediatamente associa os seus comportamentos à figura não muito popular daqueles que quase não tem amigos, que não são bem aceitos socialmente, que são bons nos estudos e ruins no futebol ou nas paqueras – ou seja, passa a existir então um conflito muito grande entre o que se é e o que o grupo do colégio valoriza. Talvez não haja nesse momento uma rejeição ao comportamento de estudar, uma vez que no passado ele foi bastante estimulado e valorizado, mas pode sim causar um certo grau de desconforto e sensação de inadequação da criança perante o grupo.
Como os pais devem proceder se a criança ou adolescente reagir dessa forma?
Os pais podem tentar mostrar a essa criança ou adolescente que existe nela uma grande aptidão e interesse pelos estudos e que isso não é ruim, não é errado, ou seja, os pais devem continuar valorizando esses comportamentos, ao mesmo tempo em que mostram que esse estereótipo de “nerd” nem sempre corresponde à realidade – nem todo “nerd” é aquele que não tem nenhum outro tipo de habilidade a não ser a de estudar, pesquisar e ser o primeiro aluno da classe em notas ou bom comportamento. É possível sim, ser um bom aluno sem carregar o título de “nerd” da sala. Essa pode ser uma chance para que os pais tirem um pouco do peso que isso tem sobre a criança, fazendo com que ela se sinta querida e respeitada em casa e no colégio.
Quando os pais devem interferir?
Os pais podem e devem interferir quando percebem que esse rótulo (“nerd”) está trazendo sofrimento para seu filho, quando percebem também que, apesar do talento e do gosto que o filho tem pelos estudos, ele se sente punido e rejeitado pelos colegas, e que isso tem lhe acarretado problemas emocionais como tristeza, isolamento, e mudanças de comportamento, como um rendimento abaixo do que vinha tendo até o momento sem nenhuma causa aparente, exceto por uma necessidade de mostrar ao grupo que ele também é capaz de tirar uma nota baixa em Matemática, por exemplo. É sempre importante que os pais estejam atentos aos comportamentos dos filhos, e que percebam que além de estudar a criança precisa também de lazer e de amigos, e que isso é possível mesmo sendo um aluno nota dez em exatas. O diálogo é fundamental.
O que esses rótulos (popular / nerd) representam para as acrianças?
Esses rótulos podem representar uma marca, um registro, algo que os identifique de maneira negativa, estereotipada, e que não lhes possibilite mostrar quem realmente são, o que fazem de interessante, e que possuem habilidades e capacidades outras que não somente a intelectual, e que eles podem também socializar nos grupos, podem ser bons em esportes e até nas paqueras entre colegas.
Essa não é uma situação recente, com isso pode refletir no futuro deles?
Hoje em dia os “nerds” já não são mais vistos como “seres de outro planeta” com interesses tão diversos dos demais que não podem frequentar uma roda de colegas na escola, nas festas e nas viagens de férias. Com boa orientação dos pais, professores, eles podem perceber que o seu gosto pelos estudos pode ser bastante proveitoso e produtivo. Eles podem e devem ser orientados a agir de maneira que seus interesses por pesquisas, jogos complicados entre outras coisas, não virem uma obsessão e algo que os afaste totalmente do convívio social, tornando-os totalmente inadequados em questões sociais. O ideal é uma boa observação dos comportamentos dos filhos, uma boa orientação e uma certa dose de equilíbrio, tanto na vida acadêmica quanto no vida social.
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